domingo, 1 de maio de 2011

Descolando

Conheceu aquele fotógrafo numa inauguração de uma boate em Campos do Jordão.Ela como assessora da nova casa e ele cobrindo a festa.
Passaram a viagem inteira conversando sobre música eletrônica. Amavam GMS e Raja Ram. Finalmente havia encontrado alguém que falasse sua lingua, que gostasse de rave pelos djs e não pela loucura.
Ele trabalhou a noite toda,fazendo imagens dos sociaveis e das mocinhas bonitas. Ela correndo de um lado para o outro tentando resolver todos os pequenos problemas que envolvem uma inauguração.
Ela fica em Campos, tem mais festa para acompanhar no dia seguinte. Ele volta com os outros jornalistas. Eles trocam cartões como dois profissionais.
Na semana seguinte, o tal fotógrafo resolve entrar em contato. Primeiro para avisar que as fotos da balada haviam sido publicadas. No outro paragrafo do e-mail, ele diz para abrir a foto anexada e pede para ela dar a sua opinião. Era uma foto linda dela, tirada espontaneamente no meio de luzes vermelhas e amarelas. E assim, ele fisgou a garota.
Combinaram de ir ao cinema. Como ele não tinha carro, ela vai buscá-lo.
- Vamos assistir o que
- É uma surpresa ! Vou te levar para assistir o melhor filme da sua vida ! Vc vai adorar !
E ela estava encantada com o jeito descolado, alternativo e artistico dele.
Chegando no cinema, descobriu que era um filme japonês, daqueles bem trágicos. Em preto e branco. Com um final que ela não conseguiu entender. Era o pior filme que já tinha visto. Estava se sentindo uma burra.
Ele saiu animadissimo da sessão. Querendo discutir cada detalhe. E ela constrangida, sem saber o que falar, sem saber onde colocar as mãos. Entram no carro e seguem rumo ao restaurante.
No meio do caminho, numa grande avenida, descobrem uma daquelas obras que arte feitas para chamar a atenção da cidade. Isso acontece muito em São Paulo. Era um esqueleto de um predio e em cada janela o artista colocou uma barraca de acampamento colorida do lado de fora. Era lindo.
Ele se transformou. Pediu para parar o carro, abriu a porta e saiu desembestado pela avenida. Detalhe: estava chovendo torrencialmente. Começou a parar os carros e mandar as pessoas sairem para ver o tal prédio. Ela só se preocupava com a escova que tinha feito para encontra-lo. Ele preocupado em quantos individuos conseguiria fazer parar o que estava fazendo para admirar a obra.
O que era lindo, começou a ficar assustador. Era muito descolismo, era muito artistico para ela.
Entram no carro e ele está em extase. E ela só querendo que aquela noite acabasse. Começou a dizer que já estava tarde que era melhor deixa-lo em casa. Sua boca mexia, mas parecia que ele não estava entendendo nada. Só falava do que havia acontecido. 
Mesmo assim, se fingiu de morta e seguiu para a casa do meliante. Chegando lá ele resolve beijá-la. Mas ela já está muito frustada. 
Ele sai do carro e ela finalmente consegue seguir seu caminho.
Mas aprendeu uma valiosa lição:ela é uma assessora de imprensa que gosta de revista de fofoca e reality show. Nada descolada, artistica ou intelectualóide. E descobriu que adora sua vida fútil e sem razão.

Nenhum comentário: