domingo, 24 de abril de 2011

O passado mora ao lado

Todas nós já tivemos nossas paixões de infância. No meu caso, eu tinha 13 e ele 15. Nessa fase a idade faz uma diferença enorme e eu jamais consegui com que ele olhasse para mim diferente. Os anos se passaram, nós crescemos e a era da rede social chegou com tudo. E foi assim que ele me encontrou, numa rede social. 

Trocamos e-mails, telefones e numa dessas conversas acabei descobrindo que ele morava do lado de casa. Eu estava curiosíssima para encontrá-lo e quando me disse que estava tão perto, não pensei duas vezes: vamos jantar querido ??Não sou do tipo que sai convidando assim, mas a curiosidade foi mais forte do que eu.
 
A noite estava gelada. Coloquei um casaco pesado e ele me pegou 15 minutos depois de nossa conversa. Chegando no carro veio a decepção. Ele não era mais o garoto esguio e musculoso de quinze anos atras. O tempo realmente não fez bem pra ele. Mas eu não sou muito de ligar para isso, meus namorados nunca foram um bom exemplo de beleza mascullina. Sempre me interessei mais pelo cérebro do individuo do que pela casca. 

Fomos a um restaurante japonês chiquérrimo. Minha sobremesa tinha três andares. Papo bom, o moço era interessante. Falamos do passado, dos amigos em comum, da vida, das viagens. Ele continuava sendo uma pessoa bacana. 

Continuamos conversando no caminho de volta, até que a minha rua aponta. Essa era a hora crucial. Se ele não tentou me beijar no restaurante, era só por falta de clima. No carro, eu dei umas brechas, fiz a atmosfera para ele chegar perto de mim. Carro parado, mais dez minutos falando e nada. Desisto. Procuro a chave de casa. Perdi mais uns cincominutos ali brincando com o chaveiro e nada. Beijo no rosto, abro a porta e sai o em direção da escadaria do prédio. Tudo bem, as vezes ele é timido mesmo.

No meio da semana o celular toca. É ele! Quem sabe agora vai ! Combinamos de ir ao teatro ver um musical. Coloquei meu melhor vestido, salto, maquiagem. Não é por nada, mas se ele não me beijasse dessa vez, juro que faria voto de castidade. No primeiro ato, meu estômago revirava de ansiedade. E ele sentado feito uma estátua grega, sem perder uma fala dos atores. E eu ali, linda e loira esperando algum movimento do rapaz. E nada.

Intervalo. Agora vai ! Acho que ele quis esperar para me pegar desprevinida lá fora. Calor insuportável. Estava tão nervosa, que acabei pedindo um café no botequinho do lado. Aquilo desceu rasgando minha garganta. Bateu no estômago e subiu aquele calorão. Que grande imbecil que eu sou. Fiquei com o rosto vermelho na mesma hora. Que vergonha ! Agora só falta ele pensar que eu fiquei encabulada ! Mesmo assim, ele não tomou nenhuma atitude. Desisto. Entrei decidida a prestar atenção no espetáculo. Chega de esperar ser beijada.

Sentada na minha poltrona, quem vira estatua grega sou eu. E não é que a peça estava ficando boa ?? Sinto um sacolejo do meu lado. Não se mexa agora !! Não quero mais ser beijada !! Estou adorando a história, quero ver o show de verdade !! Ah não ele pegou minha mão. Poxa, bem agora ... Vou fingir de morta quem sabe ele para. Meu deus, ele pegou minha outra mão. Não to acreditando, agora que a mocinha descobriu que o herói gosta dela To fingindo de morta ainda. Mas ele agora vai dar uma de insistente ?? Pegou meu rosto com as duas mãos, me virou e de repente enfiou a lingua dentro da minha boca !!! Ah fala sério, isso é beijo?? Pareceu uma briga de lesma !!! Que coisa horiivel !!! E ele estava gostando, meu deus !!! Não desgrudava !!! Acabei perdendo todo o climax do espetáculo. Droga.

Esperando o carro chegar, ele vem de novo. Vai ver, ficou nervoso e deu erro.Que nada ! Briga de lesma, segundo round ! Como alguém consegue beijar tão mal ?? Eu tento concertar, conduzir a dança, mas o idiota insiste em enfiar a lingua na minha garganta ! Por que esse carro não chega logo !!

No caminho de volta, a boca dele mexia mas eu não escutava nada do que ele falava por causa da imenso nojo que eu estava sentindo daquela lingua enorme. O carro para e eu louca para sair correndo dali. Já vou abrindo a porta e ele quer outro round. Mas eu não ia aguentar isso de novo. Virei a cara na maior tranquilidade e dei um beijo no rosto, disse que tinha sido divertido e que poderíamos repetir outro dia. Achei que depois disso, ele desistiria. 

Não é que ele acreditou que eu havia gostado. Mesmo virando a cara no final da noite! Me ligou pelo menos uma vez por semana durante muito tempo e eu sempre arrumando uma desculpa. Um belo dia, ele me chama no MSN e diz que está namorando ! Graças ao bom protetor das mulheres solteiras ! Tomara que essa dê conta da luta inteira. Eu fui nocauteada no segundo round !

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Aprendendo a dietar

Quando eu era adolescente, me irritava com todo mundo me chamando de Oliva Palito, capa de guarda-chuva e filé de borboleta. Confesso que eu era magrela e esguia. E achava que aquilo era o fim do mundo. Cheguei a comprar suplementos alimentares, vitaminas e me entupia de hamburger e milk shake, só pra ter uma coxa um pouco mais grossa. 
O tempo passou, engravidei, engordei 20 quilos e como um passe de mágica eles sumiram sem eu perceber em exatos dois anos. Que sorte, você deve estar pensando. Negativo. Essa vida me fez ver que eu não precisava fazer qualquer tipo de restrição. Mas o tempo passa, o metabolismo muda, você continua comendo como antes e aquele sorvete cheio de calda  que você comeu no almoço acaba instalado nas suas ancas.
E foi assim que eu percebi que precisava fazer dieta. Uma palavra totalmente desconhecida para mim. Fiquei viciada em revistas de boa forma, o suplemento alimentar foi trocado pela farinha humana e a dupla hamburger e milkshake por saladinha de agrião e tomate com um grelhadinho.
E quem disse que eu consegui perder uma grama? E quem disse que eu gosto de salada? Se alface com cenoura fosse realmente a última maravilha do mundo, teria um rodizio de salada em cada esquina. O povo ia ganhar milhões com isso. E o famoso grelhado ? Tem coisa mais sem graça que peito de frango ? 
Me falam para trocar o chocolate por uma gelatina. Que delicia, não ? Aquilo parece água saborizada em estado desconhecido - não é sólida, liquida ou gasosa. Frutinhas ? Como comer um fatia de melão pensando naquele pudim de leite condensado da mesa do lado ?
E o pão integral ? Me sinto comendo um grande pedaço de isopor.
Queijo branco ? Tem tanto gosto quanto lamber o pé da mesa.
Iogurte? Só com um quilo de açucar.
Leite desnatado? Parece água suja.
Refrigentes light e zero ?  Não consigo pensar em outra palavra a não ser esquisito
Adoçante ? Sério, precisa comentar? Aquilo fica na sua boca até a próxima maldita refeição.
Sua vida social vai virando um inferno. Você é convidada para jantar e no primeiro encontro já é obrigada a pedir uma ceasar salad sem croutons e parmesão. Sim, por que o cara te chama para sair num dia de semana normal, nunca no fim de semana, quando pode conhecer alguém mais interessante na balada. E pizza, risoto, mousse de chocolate só estão liberados na TPM ou na escapada de sábado.
O que é saudável, normalmente não é gostoso. Só é gostoso se você coloca um molho cheio de calorias em cima ou combina com doce de leite. Parece uma grande hipocrisia da minha parte, existem pessoas com o peso muito mais acima que o meu. Mas na verdade elas cresceram sabendo que não podiam comer tudo o que queriam. Estão acostumadas a isso. Eu fui obrigada a aprender mais velha. E essa é a grande ironia da vida. A vingança das gordinhas que estudavam comigo na sétima série. Se eu soubesse disso tudo com 17 anos, jamais tomaria aqueles suplementos. Aposto que eles ainda estão escondidos no meu culote.
  

sábado, 16 de abril de 2011

Ah o carnaval

Ah o carnaval!
Colombinas e arlequins rasgando a fantasia.
Tempo em que tudo é alegria e nada mais importa.
As pessoas libertam-se e agem como se não houvesse amanhã.
Ressaca - só a moral na quarta de cinzas. Isso se você se lembrar o que aconteceu.
Se não lembrar, não fez!
O cenário era perfeito - Rio de Janeiro.
Depois de uma tarde inteira atrás dos blocos do Leblon e um sanduiche, quatro doses de vodka com energético e duas latas de cerveja no estomago, ela lembra do garoto que ficou de encontrar na Lapa à noite. Convence as duas amigas e toma rumo ao bairro mais descolado do carnaval carioca.
Vai pro ponto, pede informação, espera, toma mais duas cervejas ... O mundo roda, mas ela não tá nem ai! Graças a Deus o ônibus está vazio. A cobradora era uma verdadeira passista de escola de samba. Linda, cabelos escuros e ondulados, sotaque xiado, concorrente fortissima! No banco da frente, um grupinho de moças fantasiadas. No de trás, um bando de amigos mais loucos que o batman. E puxa papo com as garotas, faz uma piada com os bêbados.
E entra mais um, mais dois, mais 20, mais 100 ... De repente, o ônibus vira uma lata de sardinha. E tudo é festa, tudo é carnaval.
A cobradora entrou no clima, pediu um cigarro, fumou lá dentro mesmo. O povo começa a cantar marchinha, samba enredo, forró, música infantil e o que dá na cabeça.
Animação total, afinal é carnaval.
Ela já com metade do corpo pra fora da janela, fazendo batuque na lataria e berrando a letra da musica toda errada. Para no farol, puxa papo com o carioca da calçada. Trânsito. A conversa vira uma cantada, que vira uma loucura - o tal moço se pendura no teto e enfia a cabeça dentro da janela. E a loucura vira um beijo, mesmo com ônibus em movimento.
Enquanto isso, o povo continua a subir. Passa um, passa dois, mas o terceiro passa um xaveco daqueles bem toscos na cobradora. Não importa, ele nem precisava falar. Sem camisa, todo riscado e queimado de sol - a musa nem viu de onde veio, quando percebeu já estava grudada no passageiro deus grego.
Começa um burburinho lá no fundo. "Chegooooooooooooooooooooooou, para ae motorista!".
A Lapa chegou. Dava pra ver os arcos da janela. Lá no fundo ela ouvia seu samba preferido - Choooooooooora! Não vou ligar, não vou ligar! Chegou a hora, vais me pagar!
Logo bateu a dúvida. Será o que o tal garoto valia a pena mesmo. Será que ele ainda estava esperando. Será que tinha encontrado outra.
E decidiu: segue motorista, o melhor do carnaval era ali no bloco do busão!

Voltando

Voltei. Não sei por quanto tempo. Não sei com que periodicidade vou conseguir atualizar.
Mas a vontade de escrever precisa ganhar da falta de tempo.
E assim vou voltar. Devagar e sempre.