sábado, 7 de março de 2009

Passado

Uma conversa de quinze minutos na varanda do meu apartamento.
Foi assim que eu terminei o relacionamento com o grande amor da minha vida.
Depois de anos de convivência percebi que estávamos seguindo por estradas diferentes.
E por mais que eu tentasse nos colocar no mesmo caminho, as estradas continuavam se desencontrando.
Nós éramos uma familia separada, com uma convivência de fim de semana. Eu queria juntar nossa familia. Ter uma cama de casal nossa, uma geladeira nossa, um fogão nosso, um berço para nossa filha ...
Não precisava ter casamento pomposo, papel passado, festa para os amigos ...
Eu queria ele só para mim, sem alarde e sem pressão.
E estava batalhando por isso. Estava assumindo o meu grande amor para todos da minha familia que insistia em não acreditar nele. Estava assumindo meu grande amor para todas as minhas amigas, embora elas sempre me alertassem sobre todo o sacrificio que eu fazia por ele.
Eu pegava três conduções entre o Morumbi e a Lapa, trabalhava o dia inteiro, corria para a faculdade e tentava chegar cedo em casa para pegar a pequena acordada. Pagava a escolinha dela e algumas continhas que sobravam.
Em contrapartida, ele batalhava pelo sonho de um dia ser um grande campeão. E se dedicava por inteiro na profissão que acreditava. O problema é que eu sempre quiz mais para ele. Sempre quiz adaptar a personalidade e as atitudes dele para um homem que eu tinha fantasiado em meus pensamentos.
Queria crescer com ele, mas queria transformá-lo numa pessoa diferente. Aquele lutador não era nem de longe o sonho do marido ideal.
Marido pra mim chegava em casa de terno e gravata. Tinha vontade de estudar, de fazer uma faculdade. Tinha ambições, tinha vontades, tinha desejos.
E eu não acreditava que um simples lutador me proporcionaria tudo isso um dia.
Eu não enxergava esforço nenhum dele para que formassemos uma familia feliz. Enxergava somente o grande amor que ele sentia por mim, mas com o passar do tempo e da convivência de fim de semana, eu deixei de admirá-lo.
E nesse momento, começamos a seguir por caminhos diferentes.
Eu lutava para ser uma jornalista competente e ao mesmo tempo uma boa mãe. Lutava para tentar admirá-lo novamente. Lutava para acreditar que o grande amor que nós sentíamos seria suficiente para continuar. Ele seguia em frente, com as suas verdades absolutas e seu sonho como prioridade.
Mas um dia, o cristal se quebrou.
Uma pequena atitude egoísta dele me fez ver que eu lutava sozinha. Ele me deixou de fora de uma decisão que achava que tinha que ser conjunta.
Foi uma coisa boba, mas se tornou enorme diante da confusão de sentimentos que eu já estava passando.
Tentei juntar os pedaços, mas cristal quando se quebra nunca mais é o mesmo.
Levei essa mágoa por mais algum tempo, mas estava cansada demais para continuar.
O desgaste era imenso e ele não percebia o que acontecia.
Não percebia porque eu tinha deixado de sorrir.
O sonho de ter uma vida e uma familia com ele já não era mais a minha prioridade.
A admiração por ele tinha acabado de vez. Ele deixou de ser o pai que eu queria para os meus filhos. Deixou de ser o meu exemplo de homem perfeito.
E o meu cansaço era enorme.
Por essa razão, eu acabei com uma história de sete longos anos em somente quinze minutos.

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